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quarta-feira, 17 de março de 2010

Eduardo e Mônica

Quem um dia irá dizer
que existe razão
nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
que não existe razão?

Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar:
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
noutro canto da cidade
Como eles disseram.

Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer.
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse:
- Tem uma festa legal, a gente quer se divertir.
Festa estranha, com gente esquisita:
- Eu não tô legal. Não aguento mais birita.
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa:
- É quase duas, eu vou me ferrar.

Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar.
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard.
Se encontraram, então, no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo.
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo.

Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis.
Ela fazia medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês.
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus,
De Van Gogh e dos Mutantes,
De Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol de botão com seu avô.

Ela falava coisas sobre o Planalto Central,
Também magia e meditação.
E o Eduardo ainda estava
No esquema “escola,cinema,clube,televisão”.
E, mesmo com tudo diferente,
Veio mesmo, de repente,
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia
Como tinha de ser.

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia,
Teatro e artesanato e foram viajar.
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar:
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar.
E ela se formou no mesmo mês
Em que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois.
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa,
Que nem feijão com arroz.
Construíram uma casa uns dois anos atrás,
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram.

Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão.
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo
Tá de recuperação.

E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?

Legião Urbana
Renato Russo

Análise da leitura

1- Na primeira estrofe do texto, há um questionamento sobre como as pessoas reagem diante do amor.
a - Explique a que “ coisas feitas pelo coração” o autor se refere .

b- Segundo o texto, é possível entender as questões do coração? Por quê?

2- Na segunda estrofe, são feitos comentários a respeito dos dois personagens do texto: Eduardo e Mônica. Nesse trecho, o que o comportamento deles nos permite concluir?

3- Eduardo e Mônica se conheceram casualmente.
a- Como Eduardo foi parar na mesma festa que Mônica?

b- Por que Mônica riu de Eduardo e achou que ele queria impressionar?

c- Eduardo parecia ser o único que havia bebido demais e que tinha horário para voltar para casa. O que isso indica?

4- Eduardo e Mônica marcaram um primeiro encontro.
a- Eduardo queria ir à lanchonete e Mônica preferia ver o filme de Jean-Luc Godard ( 1930 ), famoso cineasta francês, conhecido for filmes polêmicos. O que essa diferença indica?

5- Apesar de não ter afinidades, o casal continuou com os encontros, que se tornaram cada vez mais constantes.
a- Neste caso, haveria alguma razão que justificasse o envolvimento entre Eduardo e Mônica?

b- Qual foi o resultado desse relacionamento?

6- Na penúltima estrofe, o autor esclarece o motivo pelo qual Eduardo e Mônica ficarão sem féria naquele verão.

a- Explique que efeito é construído pela menção a “filhinho do Eduardo” e não de “Eduardo e Mônica”?

7- A última estrofe e a primeira são o refrão da letra. Relacione o conteúdo do refrão às idéias do texto.

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